Conheci “Contraparte” (lançada aqui como “Counterpart – Mundo Paralelo”) por acaso. Como assim? A série foi lançada em 2017 e eu adoro histórias do gênero, como eu nunca soube? Bom, esse é o maior problema dos serviços de streaming, o algoritmo acredita piamente que você é um idiota. Por mais que você mantenha um padrão em suas escolhas, ele teima em tentar te empurrar “A anatomia de Grey” e congêneres.
A série tem elementos de “A cidade e a cidade” – o livro de China Miéville, não a ótima minissérie da BBC, que só estreou no ano seguinte – e, principalmente, de “Fringe”. A história se passa em Berlim, a cidade-metáfora do mundo dividido – em “A cidade e a cidade”, disfarçada de Beszel e Ul Qoma –, mas enquanto as fronteiras entre esses mundos paralelos não são claramente distinguíveis no livro, pois coexistem em frequências diferentes, em “Counterpart” a coisa funciona como em “Fringe”: há uma espécie de Checkpoint Charlie que dá passagem entre eles e todos têm o seu duplo, com personalidades muitas vezes opostas. A grande diferença é que na última esses dois universos-espelho sempre existiram e em “Counterpart” só havia um, que se dividiu em dois depois de um experimento que deu errado. E eles seguem iguais até um incidente os cindir, fazendo com que tomem destinos diferentes.
O grande mérito de “Counterpart” é a quantidade de reviravoltas, subtramas e ótimos personagens com motivações críveis que seguram a atenção e não deixam a gente piscar. A série foi criada por Justin Marks, que é autor do roteiro de “Top Gun 2”, que não sei dizer se é um mérito ou demérito, pois não tive saco de ver. São duas temporadas com dois episódios cada, que terminam satisfatoriamente. Foi dito que a série foi cancelada pela Starz porque agradava mais ao público masculino que feminino. Acho que superestimam a inteligência do primeiro e subestimam a do segundo. JK Simmons faz os protagonistas (e é difícil acreditar que são a mesma pessoa, o cara é bom mesmo), mas as personagens mais interessantes e fodonas são as femininas. Seja como for, foi um daqueles males que vem para o bem. Perigava virar outra salada de boas ideias desperdiçadas como a própria “Fringe”.