Bilqis


Bilqis mal podia esperar para se livrar do maldito traje de contenção. Jamais entenderia como poderia haver mulheres que se submetiam àquela tortura por vaidade. Ela só usava donzelas de ferro, como apelidou a vestimenta, nas longas viagens que fazia; assim que chegava ao seu destino, livrava-se dela. Como forma de amenizar os efeitos de variações gravitacionais no vácuo, o assessório era justificável, um espartilho útil; já para ficar com um corpo mais palatável para os idiotas, nem pensar.

Foi justamente porque estava de saco cheio dos padrões de beleza exigidos em seu planeta natal e seus nativos do gênero masculino que Bilqis resolveu se alistar como caminhoneira interplanetária da Ngarkoni, empresa de transportes da Terra Unida. Viajar pelo Sistema Solar se tornou sua vida e ela não a trocaria por outra, principalmente depois que encontrou a mina de ouro que sempre sonhou: os faroleiros. “Homens de verdade não gostam de varapaus”, dissera a atriz Alicia Silverstone muitas décadas antes de ela nascer, ao ser criticada por supostamente estar acima do peso quando interpretou a Batgirl no filme “Batman e Robin”. Guardas de farol eram homens de verdade, essa riqueza cada vez mais rara; faróis não tinha fora de falo por acaso.

Ela estava a caminho do farol que orbitava Calisto e entrou em contato com o zelador, Denton; este lhe pediu fotos desinibidas, um bom começo. Mandou uma em que imitava a pose de uma modelo plus size famosa dos anos 20 para um ensaio de site pornô: devassa, como gostava. A resposta a deixou ainda mais animada.

– Gordelícia… Vou me fartar nessas carnes.

Gostava de ouvir e falar grosserias. Sexo sem palavras sujas era incompleto. Cu, bunda, xoxota, xereca, buceta, piroca, pica, jeba, rola, porra eram os mais belos vocábulos.

– Fazer amor é o caralho, eu quero é que me comam! – falava sozinha enquanto preparava o cargueiro para descarregar automaticamente a provisão de mantimentos e peças de reposição.

Lambia cada lâmpada Drita nos preparativos do desembarque enquanto se tocava. A jornada que a levaria às estrelas, torcia, tinha sido mais longa que o previsto por causa de uma tempestade solar fora de época. Os sexandroides da leSamoureus que levava para viagem, Brassribs e Brassneck, pifaram devido ao excesso de uso.

Entrou no farol usando a donzela de ferro, porque Denton pediu um strip-tease. Gostou do ambiente: o faroleiro tinha arrumado a casa para recebê-la, mas deixou nas paredes as antigas fotografias de mulheres nuas que decoravam o recinto. Usava uma inacreditável sunga de couro sintético. Seu corpo ainda estava comprimido quando o tirou; suas formas verdadeiras se revelaram aos poucos.

– É muita gostosura! Por Júpiter! Não tem carga mais preciosa!

Enfiou a língua na boca dele, que pôs as mãos em suas nádegas, que àquela altura já tinha retornado ao avantajado tamanho natural.

– Exijo uma surra de pica, barba, cabelo e bigode.

Denton não a decepcionou, apesar de ela quase o levar à lona.

– Fode! Fode! Fode! Fode! Não para!

Ficou de bruços.

– Agora goza no meu rego, gosto do friozinho da porra descendo pelas costas.

O apito a avisou de que a encomenda tinha sido descarregada; era hora de partir para um novo porto e Quaoar ficava bem longe.

– Olha, você é mulher pra mil talheres, mas dá conta de quantos? Eu e uns amigos marcamos uma suruba de fim de ano em Caronte, quer participar? Somos de oito, mais as convidadas.

– De oito eu dou conta sozinha. Nem precisa de reforços. Vocês, é que eu não sei se aguentam. Vão me foder até eu desmaiar? Se prometer, eu vou – provocou.

Contrariando seus hábitos, Bilqis entrou na câmera criogênica – até porque Brassribs e Brassneck estavam fora de combate.

– Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete oito faroleiros… – contou antes de fechar os olhos e se entregar de bom grado aos súcubos.


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