Fantasmas nas máquinas


“Mars Express”, animação francesa dirigida por Jérémie Périn (o mesmo da série “Lastman”) vem sendo comparada, não à toa, com “Blade Runner” – a versão deprê de Ridley Scott, é bom frisar. Sua questão central, como o filme, são os limites entre o que pode ser considerado humano ou não; só que vai ainda aprofunda mais os impasses políticos impasses políticos e traz à tona uma discussão bastante atual.

Quando se pensava em futuro, imaginava-se que as máquinas libertariam os seres humanos do trabalho desumano, deixando-o livre para criar. A realidade vem esfregando na nossa cara o contrário: programas de inteligência artificial tem sido usados para criação (sic) e os robôs tiram o emprego de trabalhadores braçais. O que vai sobrar para nós?

É nesse mundo que a história é ambientada, no ano de 2200. A Terra está um caos, i desemprego grassa e há uma justa discriminação de pessoas contra os autômatos. O problema é que muitos dessas máquinas são pessoas mortas que tiveram suas consciências transferidas para corpos cibernéticos. É o caso do investigador Carlos Rivera, parceiro da destemida e adoravelmente alcóolatra Aline Ruby. Os endinheirados se mudam para Marte, em paraísos artificiais – com direito a falso céu azul – disfarçados de cidades, para onde a dupla vai para investigar o sumiço de uma hacker.

Rivera é justamente o personagem mais interessante por sentir na pele (sic) esse dilema: ele pensa como um ser humano, mas é discriminado por causa de seu invólucro mecânico. Quer se aproximar da filha e é impedido por sua viúva (sic) por preconceito – ele tem um histórico de violência familiar e como androides são mais fortes que os seres humanos, são temidos por causa disso também.

O visual de “Mars Express” é deslumbrante – seu traço limpo em 2d lembra outra obra-prima da animação científica recente, a série “Planeta dos abutres”. Também traz o frescor de ser falado em francês e não nos onipresentes no gênero inglês e japonês. Seu desfecho é absolutamente inesperado, brutal e chocante. No universo onde se passa, é possível que exista uma continuação. Espera-se que Périn se aventure em novos tempos e novos mundos e não ceda à tentação.

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