Admirável mundo novo


Não sei qual é o pior, se o título em português, “Planeta dos abutres”, ou o original, “Scavengers Reign” (ao pé da letra, “Reinado dos Catadores”), mas dificilmente há uma série de animação de ficção científica melhor do que ela para ver no streaming hoje em dia. Baseado no curta homônimo – que você pode ver acima – de seus criadores, Joe Bennett e Charles Huetnerr, os 12 episódios estão no HBOMax. Como a primeira temporada termina com um gancho, certamente haverá uma segunda, a história é o que menos interessa, porém. O primeiro capítulo pode fundir um pouco a cuca, pois já começa a meio caminho andado. Aos poucos descobrimos que o cargueiro espacial Demeter 227 caiu no planeta Vesta, onde nenhum homem jamais esteve. Seguimos as atribulações de cinco personagens – um deles, um robô – com o meio ambiente local. Eles tentam encontrar os destroços da nave em busca de outros sobreviventes; entretanto, o que torna o seriado fascinante é a interação deles com a fauna (sic) e a flora (idem) locais. O ecossistema alienígena criado por Benett e Huetnerr – o curta traz uma pequena amostra – é de uma biodiversidade amazônica. Aos poucos, humanos e autômato não só aprendem como usar dela a seu favor, como começam a ser modificados por ele – escrevi o conto Tekoha antes de vê-lo, mas tem a mesma pegada Teoria de Gaia. À primeira vista, a série lembra o clássico da animação francesa “O Planeta Selvagem” (1973), de René Laloux (1929-2004), porém o Reinado dos Catadores é um rico admirável mundo novo, com estética de quadrinho europeu (sobretudo Moebius), a ser explorado sem pressa – diria até que é bom pra ver doidão, se isso não pudesse ser confundido com apologia às drogas. Quem procura ação, que vá procurar em outro lugar; Vesta é para ser contemplado.

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2 comentários a “Admirável mundo novo”

  1. Esta série é incrivel! Desde que ví o primeiro curta fiquei facinado coma construção do planeta e a estética que lebra Moebios, é verdade, mas tem uma biodiversidade densa que destoa um pouco das paisagens muitas vezes desérticas de Moebios.
    É uma alegria ver alguém falar desta série, desde que assisti vivi a aflição de estar fascinado por uma cosia sobre a qual não tinha muito com quem conversar. Rsrsrs

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